sábado, 12 de abril de 2008

Liberdade...


Nos meus cadernos de escola
Na minha mesa e nas àrvores
Na areia e na neve
Escrevo teu nome

Em cada página lida
Em cada página em branco
Pedra, sangue, papel ou cinza
Escrevo teu nome

Nas imagens douradas
Nas armaduras dos guerreiros
Na coroa dos reis
Escrevo teu nome

Na floresta e no deserto
Nos ninhos e nas ciestas
Nas lembranças da minha infância
Escrevo teu nome

Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome

Nos meus retalhos de azul
No charco que é sol mofado
No lago que é lua viva
Escrevo teu nome

Nos campos e no horizonte
Nas asas dos passarinhos
No moinho das sombras
Escrevo teu nome

Em cada sopro de aurora
Na àgua do mar em cada navio
Na montanha desvairada
Escrevo teu nome

Na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva espessa e enfadonha
Escrevo teu nome

Nas formas resplandecentes
No carrilhão das cores
Na simples verdade concreta
Escrevo teu nome

Nos atalhos revelados
Nos caminhos desdobrados
Nas praças transbordantes
Escrevo teu nome

Em cada luz que se acende
Em cada luz que se apaga
Nas minha coisas reunidas
Escrevo teu nome

No pomo partido ao meio
De meu espelho e meu quarto
No meu leito concha vazia
Escrevo teu nome

No meu cão faminto e meigo
Nas suas orelhas atentas
Na sua pata canhestra
Escrevo teu nome

Na soleira da minha porta
Nas coisas da minha casa
Nas ondas do fogo sagrado
Escrevo teu nome

Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão estendida
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
Nos lábios esperançosos
Muito acima do silêncio
Escrevo teu nome

Nos meus refúgios destruídos
Nos meus faróis destroçados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome

Na ausência sem mais desejos
Na solidão toda nua
Em cada degrau da morte
Escrevo teu nome

Na saúde que voltou
No perigo que passou
Na esperança sem saudade
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Reconheço a minha vida
Nasci para te conhecer
E para te amar

Liberdade

(Paul Éluard)

Nenhum comentário: